A Greve e a Copa do Mundo.
Por Marcos Alencar (11.06.14)
A democracia apoia sim a greve de qualquer categoria profissional, exceto os serviços públicos essenciais (o que ainda é passível de discussão). Porém, quando analiso um movimento grevista no início de um evento da magnitude da Copa do Mundo, em que todos os holofotes se voltam para o Brasil, percebo que o correto e nem um pouco antidemocrático, será a adoção de medidas mais extremas contra o movimento paredista.
Eu me considero um fora de moda, porque acredito na legalidade (na sua essência e sem jeitinho) e neste caso do grandioso evento, a leitura que faço é que a greve não pode ser tolerada pelo Judiciário da mesma forma que se tolera em condições normais da vida social no nosso País. Se uma categoria se arrasta nas suas reivindicações e acerta milimetricamente a data de abertura da Copa do Mundo, como dia “D” para fazer valer as suas pretensões através da greve, percebo que aqui há um componente maior a ser considerado e que este tal componente não foi sopesado quando da criação da Lei.
Ao receber a notícia de que aeroviários no Rio de Janeiro entram em greve em pleno dia 12 de maio, na abertura da Copa do Mundo, não vejo nenhum excesso em se combater este movimento com máximo rigor, com a fixação de multas e demissão por justa causa dos que incitam o movimento grevista nestas condições, da mesma forma como ocorreu com os metroviários de São Paulo. Posso ser duramente criticado e acusado de tentar suspender o direito à greve no curso da Copa, mas, não é nada disso que estou querendo dizer aqui. Uma coisa é a greve ser deflagrada com naturalidade numa determinada data e outra é a mesma ser conduzida cirurgicamente para atingir toda uma nação na abertura de um evento desse quilate. O cidadão e o Poder Judiciário precisam se conscientizar que o nome do Brasil está em xeque. A Justiça precisa entender que o momento é de exceção.
Fazendo um comparativo grotesco, imagine que no meio de uma enchente de grandes proporções, os bombeiros e médicos resolvem cruzar os braços? Ora, há momentos outros diversos para o exercício legítimo da greve, mas o que não pode ser feito pelos grevistas e se aproveitarem de um exato momento para negociarem seus direitos, numa posição de franca vantagem, colocando toda a sociedade como refém do movimento. Os grevistas não pode se aproveitar disso, porque ofende a legalidade e o equilíbrio das forças.
Sou a favor da greve, entendo que se cumprida dentro da legalidade e após todas as tentativas de negociação forem frustradas, é uma ferramenta extrema que há situações que precisa ser usada, porque em alguns casos, se não for assim não resolve. Apesar disso, há também momentos que tal direito merece ser evitado e conduzido de forma a não trazer prejuízos irreparáveis aos que estão muito além dos limites do contrato de trabalho que ali se discute.]]>